Quero voltar a viver

Sigo me perguntando quando teremos condições de resgatar a noção de livre trânsito e demanda de nossas próprias vontades. Chega a parecer, como estampa-se nos olhos de todos, que a privação e a provação se instalaram em definitivo e não há mais cenário que sugira devolver o mesmo ambiente de antes. 

Quando voltarei a viver? Quando passaremos por cima disto tudo e nos distanciaremos o suficiente do presente a ponto de estarmos longe o bastante para esquecer este pesadelo? 

Ansiedade? Sim, anseio pelo futuro pois ele me vende uma ideia de que isto tudo vai passar trazendo o imunizante da memória. Enfim, quero esquecer tudo isso e assim sobrevivo, levo um dia depois do outro tentando explicar a mim mesmo o fluxo torrencial das surpresas no caminho.

Numa intensidade insana, recebo notícias de todos os lados. Meus próprios sentidos já se habituaram a permanecer no modo vigilância em potência máxima para não perder nenhum detalhe do que acontece no presente para me proteger ou encontrar uma razão, amparada na ciência, para não enlouquecer. 

Quero e preciso ficar muito atento para conseguir passar longe e ileso das estatísticas que me assustam enquanto se convertem em gráficos escalonados com suas cores dramáticas e seus números que explicam o significado de exponencial. 

Como parar com tudo isso? Quero voltar a viver! Meu único desejo é voltar a experimentar aquela sensação dormente e tão agradável de poder simplesmente seguir com a rotina. Como sinto falta do normal. A ignorância me diz que era feliz e nem sabia. 

Será?? Será mesmo que chutar o presente e ignorá-lo servirá como o alívio perfeito?

Pego um vinil do Gil e escuto novamente o seu ensinamento de apagar as luzes para falar com Deus. Tento. Então imediatamente lembro de respirar, ainda mais fundo desta vez. Quase choro e me sinto fraco. Logo acho mil culpados para o meu sofrimento e como meu mundo estaria melhor se eles não agissem como insistem. Me pergunto o tempo todo porque não fazem o certo e descubro que nem sei mais o que está errado. 

Corri pro dicionário, à moda antiga, para descobrir todos os significados de uma palavra que ouvi recentemente. Passo páginas e mais páginas até chegar na letra E… pronto. Achei, “Empatia.” Gostei da sensação de tocar e perceber novamente a textura das folhas envelhecidas enquanto aprendia um novo vocábulo. Poderia ser a peça que faltava para entender toda aquela montanha russa que corria em minha mente. 

Silencio-me e volto a lembrar de como não gostava de ver o Sol indo embora, quando criança. Queria brincar mais. Hoje, quero simplesmente estar vivo. Cansado de olhar para o eclipse que se apresenta, lembro que não tenho garantias de nada como nunca antes, igualmente. Aceito. Afinal, o meu velho e saudoso normal foi construído com a leveza aventureira da alma que queria viver um dia de cada vez, construindo o futuro com blocos de sonhos, mesmo que decorados com utopia. 

Nada mais importava e eu sabia que poderia refazer o meu presente, sem depender do futuro, repetindo a plenitude do passado e para isto teria que ser natural e autêntico. Foi quando voltei-me para o Sol e percebi que ele me faz muita falta e como apenas perceber sua presença me aquece profundamente enquanto reaprendo a respirar sem a apneia do medo. 

Sinto que algo me impele a retomar o fluxo da vida. Assim mesmo. Sem condições arquitetadas por uma mente pró-controle. Sinto muito por mim e por você ao relembrar que meus atos e escolhas contribuíram para você estar onde e como se encontra agora. Quero sentir e refletir mais, por nós e pelo nosso futuro.

Clamo pela resiliência mas que ela venha com a clareza necessária para me relembrar sempre e sempre o que aprendi nesta quarentena: Não quero mais sobreviver. Quero voltar a viver!

@arjun.life

Por Arjun, especialista em espiritualidade, medicina tradicional indiana, astrologia e meditação. Como professor e palestrante internacional, Arjun tem transformado vidas através de seus workshops e retiros. Acompanhe sua jornada por aqui e no Instagram @arjun.life.

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